Desde tempos primordiais, a destruição do homem pelo homem - de forma individual, pessoal ou coletiva - se resume em dois fatores: a necessidade e o desejo. A falta da primeira nos desespera por nos aproximar do nosso encontro inevitável com a nossa última visita, aquela que com a foice um dia nos despedaçará. Já a falta do segundo nos desaquieta por nos convencer de que, quando nos encontrarmos com tal visita, não teremos vivido o que poderíamos viver. Não teremos cumprido o nosso potencial e teremos jogado nosso tempo fora quando na realidade poderíamos ter sido plenos, melhores, mais alegres, mais cheios, mais "completos".
A necessidade é essencial em essência, pois nos liga à sobrevivência.
Já o desejo, o querer, possui garra tão poderosa que se torna irracional e absoluto, se torna um necessitar querer, algo que não é necessário mas que necessariamente toma todas as horas do nosso dia e que invade nossos pensamentos e polui, estraga, aquilo que outrora nos fazia contentes e alegres e completos. Não queremos o que queremos. Queremos querer o que queremos.
O querer é um vício. Nunca satisfeito, sempre se renova e cada vez mais forte. Conforme te puxa com suas garras e recebe ainda assim o sustento que te pede, percebe sua própria força e as torna maiores e mais afiadas.
Lutar contra o desejo constante é solitário, mas essa solidão passa. Tanto quanto sair da multidão e mergulhar em si mesmo é solitário. Parece criar um vazio, mas esse vazio repentino deve ser preenchido consigo mesmo. E, assim como este último, é só abrindo mão do que te prende em suas garras que é possível perceber que a vida e o mundo são infinitos em possibilidades e que o primeiro passo para seguir em frente é aceitar onde está e seguir com ambição, usando-a como ferramenta ao invés de se tornar você mesmo ferramenta do seu desejo.
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