segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Nem longe nem perto... O círculo das eras

Como uma flor que nasce sobre as cinzas... Nos vales das montanhas vulcânicas e nubladas. Suas raízes, fixas no solo negro, se afundam a cada ano durante o período de claridade e suas irmãs surgem na extensão da poeira que dá vida em meio à escuridão ao mesmo tempo em que fantasmas de outrora vagam junto aos ventos sobre suas pétalas e sobrevoam os morros estabelecidos por erupções ao longo dos milênios.

Oh, manifestação da vida, sua jornada nesta terra é breve mas é eterna. É você que distorce e modifica ao passo que tira de um e transfere para o outro a energia de sua capacidade que se transforma em vontade inconsciente. O ar perturbado se movimenta ao longo do inspirar e do expirar das eras, o solo brota com a feição de outras vidas e as ondas tomam para si as praias enquanto devolvem para elas parte do mar.

Enquanto o solo é pisoteado pela magnitude da existência a jornada continua; o Sol mesmo não ultrapassando as nuvens do firmamento celeste ainda projeta a sua luz incandescente e queima o que foi e o que será, forçando a mudança e a rotação do círculo das estações. A vida se constrói em meio às vidas que não mais hão de existir e faz delas o seu sustento.

A aurora é não mais que um aviso do que está por se repetir e o crepúsculo é a sua gêmea e contrapartida. Vagante, a caminhada continua e o passo dos ciclos terrenos não para e não te para. Nascente e poente são pano de fundo para a resiliência e a busca da forma original. A viagem através de terra e tempo incessa e se dá de dentro para fora, porém com ambos em conformidade. Navegue, rumo à sua Kundalini, e se preciso abocanhe o Sol e as estrelas. Mas primeiro viva sob eles como as formigas vivem sob os ursos. Se sobre eles não há poder, se manifeste independente do que lhe é externo e faça com que as eras sejam as arquitetas das suas pontes.

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Me acompanhe na jornada eterna das estrelas

Venha comigo. Enfrente o escuro. Enfrente os medos, as angústias, as incertezas e os desafios.
Desafie os problemas, os anseios, as vontades e as fraquezas.
Combatamos o incerto do futuro e derrubemos a influência do passado.
Me ajude a levantar a âncora do agora e a carregá-la enquanto buscamos o próximo porto.

A vida não espera, mas as mentes esfriam e os corações gelam com a brisa do tempo.
Soturno é o momento em que se perde no esquecimento a esperança e a vontade de fazer.
Maledicente é a voz que leva ao calabouço a determinação e a osmose empática da vida.

Caminhemos sobre as clássicas estradas, cheias de sensações e novidades.
Sejam boas ou ruins, atravessemos os caminhos da existência enquanto seguimos rumo ao destino.
Provemos da água do existir enquanto ela chove dos céus e lava nossas cabeças.
Acumulemos experiências, sentimentos e memórias ao longo de nossas passagens.

Pois acumular parado é acumular peso mórbido, esmagador e quebrante.
Caminhar pela vastidão devastada do passado é morrer de dentro pra fora.
Se afogar na água da chuva é desperdiçar o tempo que nos é tão caro,
e ficar parado e desobjetivado é a morte do destino, do futuro, da vontade, da força e de todo o universo que nos rodeia.

Venha comigo acender uma lâmpada, um archote, uma vela ou um fósforo.

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Sonhos: casualidade e expectativa

O vasto panorama dos sonhos sempre fora confuso em um primeiro momento, mas sempre apresentava uma vastidão de possibilidades a descobrir e situações para se atentar. Aquele portal, atravessado quase todas as noites de sono, nunca tinha destino certo. Aí sempre residiu a graciosidade de ser tragado por tais universos: abrir os olhos dentro da própria mente para caminhar em mundos distantes, para conviver com seres irreconhecíveis mesmo quando são arquétipos de seres próximos ao ponto de serem parte de nós mesmos. O extraordinário está em explorar enquanto vive e se adapta a uma realidade muitas vezes desconhecida e que não se sabe se será a última ou mesmo se retornará algum dia depois daquele.

Desta vez, eu me encontro no topo de um morro. Um morro que se eleva na noite, não muito acima do nível do mar, este que é possível ver alguns quilômetros à frente. A Lua, cheia, ilumina todo o horizonte tomado pela relva dos morros com a exceção da baía através da qual as águas salgadas agitadas se estendem. Por mais que esteja claro, é mais que claro que o céu está negro de nuvens, e relâmpagos rolam pelo teto celeste acompanhando o som dos trovões que anunciam a tempestade iminente.

Olho para o meu entorno com atenção, procurando entender a paisagem e a presença (ou falta de) estruturas óbvias que possam esconder algo de interessante. Porém, como a minha orientação já parece óbvia pelo lugar em que me manifesto, o único caminho é à frente. Do topo da ladeira para o fundo do vale, se inicia meu caminhar atento e constante. A curiosidade inunda minha mente antes da chuva. Estará aqui o destino do meu sonho?

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Catacumbas eternas nas profundezas esquecidas

Em meio às catacumbas míticas, posicionadas nos corredores dos monumentos incandescentes de luz Solar, perambulam os guardiões dos segredos da mente e do passado, transeuntes no turbilhão do tempo imemorial que se estende até o presente. Sobre os pisos de pedra lisa e reluzente tecem suas teias de magia e clarividência, observando sem olhos o desenrolar das eras. Seus corpos cobertos por faixas mergulham no cerne desta cascata amplificadora do esotérico e do oculto, possibilitando que lancem seus tentáculos para além do mausoléu esquecido e enterrado sob as dunas eternas, abaixo dos oceanos de areia.

Servos do desconhecido para além do sobrenatural cósmico, estendem seu manto e influenciam as mentes frágeis de humanos despreparados ou que a vida já trouxe à beira da loucura e por fim os metamorfoseiam assim como um fungo é capaz de possuir uma formiga. Abraçam os cérebros e obscurecem consciências, traçando objetivos e os aproximando do seu novo objetivo.

Dominação desenfreada, maquinam enquanto perambulam, ao largo de que eles mesmos são alvos da dominação celeste para além das esferas; marionetes milenares que realizam o que lhes é inserido em troca de tempo e em troca de relevância.

No Mar cósmico, estão vagando sobre as ondas enquanto a maré os leva para onde deseja. Sobrevivem por cima daqueles que afundam, usando da inabilidade destes para manter sua magnitude enquanto mal percebem que o Mar e as marés os mantém prisioneiros de sua própria vontade.

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Confusão e renascimento

Tempo e confusão andam de mãos dadas e destroem com cólera tudo aquilo de que se apossam. Enquanto esta gera desespero, aquele o prolonga e o torna uma bigorna soturna na face do muro aparentemente permanente que se ergue diante da caminhada através do vale das sombras.

A esperança, antes de sofrer o golpe final, é posta em estado vegetativo pela confusão, que se agarra com seus 50 dedos às pernas hospitalizadas enquanto tenta largá-las sem olhar ao redor. É somente após a morte definitiva desta confusão é que a esperança é abandonada para morrer ou desaparecer como se nunca houvesse sequer existido.

É somente após a aniquilação da confusão que é aberto o caminho para o ninho interno do renascimento da alma. A fênix, anteriormente encapsulada em um casulo construído ao longo do tempo enquanto este se faz dono dela, ressurge e desperta coberta de cinzas. Cinzas estas que não somente caem e esvoaçam mas que também são absorvidas e se tornam parte de seu Ser mais interno. São as cinzas que servem de alimento para a expulsão da dominação e para a reconstrução das asas que pairam sobre toda a existência de que elas mesmas fazem parte.

O assassinato da confusão e seu desligamento do Tempo são o primeiro passo para o despertar do Titã que foi afogado em túmulo profundo, abaixo do Hades, no Tártaro interno da existência medíocre e dependente da luz exterior. É somente após absorver a escuridão de sua prisão que a força se faz suficiente para concluir a destruição do que lhe faz cárcere e para tomar seu lugar de direito.

Liberte-se. Renasça e destrua aquilo que lhe corrói. A ferrugem corrói o aço esquecido mas, se mantida sob controle, deixa de existir.

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Labiríntico esforço mental da existência

Os caminhos do labirinto da vida se parecem. As paredes, o terreno, as entradas, as saídas, os tetos (nas partes fechadas) e os céus (nas partes abertas). Por mais que eu ande, por mais que eu escolha, por mais que eu adore e odeie, eles não mudam.

Às vezes temos encontros inesperados. Um quadro, uma flor, um cipó, uma trepadeira ou uma rachadura no chão. Um caminho bloqueado que nos obriga a retornar ou uma falsa sensação de realização. Todos levam ao mesmo lugar. Mais caminhos se formam.

Mas a inevitabilidade do labirinto não é o que me espanta. o que me espanta é a sua falta de sentido. Lutamos para seguir, para continuar e para objetivar a nossa caminhada constante. Queremos saber, entender e conseguir. Se o que importa é o caminho, por quê ele nos mantém exilados?

Há quem encontre sustento em permanecer em um único lugar, bradando ser ali o seu destino.

O exílio e o caminho solitário se mostram os maiores inimigos da vontade do caminhar. A esperança, já a maior aliada desta, nasce enorme e definha ao longo da repetitividade da frustração temporal. É ao longo das eras cerebrais e reflexivas que me perco. Me perco na vontade de que me acompanhe e me liberte da introspecção e das matrizes cíclicas, trazendo o novo, a dialética, o diálogo e a companhia que metamorfoseia essas paredes incessantes que esmagam sem que precisem me tocar.

se a caminhada para, e ninguém está ali para ver, por acaso ela alguma vez aconteceu?