domingo, 6 de junho de 2021

Permanências na narrativa

 Sonhos...

A realidade transcendental onde vivem as vontades, as memórias, alegrias, tristezas, avisos... Onde tudo vive amassado, aglutinado, unificado e em diálogo. Diferente da realidade consciente e lúcida, onde tudo luta pelo seu espaço na fila da manifestação.

E novamente você aparece diante de mim. Mais um sonho onde a visita inesperada surge inesperadamente em meio à trama, agindo com a normalidade de quem sempre ali esteve. São quase 10 e não 5 anos, sua memória não é presente no meu viver mas de alguma forma você ainda faz parte dos meus sonhos e vem trazida pela mesma pessoa que a trouxe da primeira vez no mundo externo.

Não me traz sentimentos ruins, nem muda os meus planos, mas sua permanência sempre será aleatoriamente surpreendente. Talvez esse breve encontro me ajude a conciliar com partes do meu eu que ficaram no passado. Talvez não. Mas acredito que a mente concluiu seu trabalho, pois neste exato momento ela trabalha para destrinchar e deixar esse acontecimento aqui, marcado nos Diários do Demônio [1a vez].

Seja bem vinda mas seja breve. Sua presença lá não mais tem lastro aqui.

G. L.

Validação externa

Por quê alguns de nós sentimos a necessidade de uma validação externa? Será isso uma forma de contrariar os pensamentos de pequenez e de insuficiência que certos momentos da vida nos geraram e ainda geram? Será isso uma forma de desviarmos de nossas incertezas?

Imprescindíveis, tais atos podem ser miseravelmente mínimos ou tremendamente colossais, porém seu significado sempre abrange todas as esferas do inconsciente. Assim como sua falta.

Atribuímos ao mundo externo, em quase qualquer uma de suas formas, um poder que não é dele; pois é um poder que é nosso para ser atribuído. Ou melhor: para ser agarrado e por nós mesmos utilizado.

Somos nós os únicos que passaremos uma vida inteira em nossa própria companhia. Somos nós que sabemos todos os detalhes e rachaduras e degraus da construção do nosso ser.

Se sabemos de nosso valor, por quê duvidamos? Será porque queremos dizer que as coisas poderiam ser diferentes se fôssemos diferentes? Será o medo de aceitar que o que foi sempre seria e que tudo, além de nossa responsabilidade, depende de nós? Será que o surgimento do outro nos protege dos acontecidos tenebrosos e nos coloca no presente, porém nos voltando para o futuro?

Será?

Seja como for, validemo-nos por conta própria e aceitemos que esse poder que aplicamos ao outro é por nós dado. E que a existência desse poder já é um certificado de nossa competência. Reconheçamos a nossa parte no mundo e a nossa parte no nosso mundo.

Nosso mundo só começa e acaba com nós mesmos. Então sejamos a peça central dele.



sábado, 5 de junho de 2021

Sono desnecessário

Sono desnecessário. Morrer na praia.

A vida é um misto de sacrifícios e recompensas. Muitos desses sacrifícios vem de forma espontânea, ou até mesmo deliberada, como um masoquismo caminhante que leva a um objetivo pleno na construção do todo, se tornando assim o sacrifício também um objetivo.

Porém, como água na brasa que ainda espera se tornar uma nova chama, temos o sacrifício que nada encontra. O mártir esquecido assim que o som da tampa do caixão deixa de ecoar. Chegar na praia pra ser espetado pela lança dos tempos. O erro das fúrias e da matemática.

A imprevisibilidade do que é humano.

Se sacrificar para morrer na praia, sentir-se alvejado sem propósito, sacrificar algo sem necessidade, se preocupar onde não existiu perigo, isso tudo é estranho para a mente humana.

E como tal, quebra a rotina e confunde o próximo passo.

É isso.