Em meus devaneios encontrei, num dos centros do infinito, no pilar brilhante de obsidiana retorcida e pontiaguda que se estende do poço obscuro das águas lamacentas da origem aos tetos - invisíveis de tão altos - do ego, a mácula assassina do flagelo; o Tormento imposto de forma sobreposta através dos grossos chicotes estirados, das densas vinhas entrelaçadas, dos pontiagudos espinhos emaranhados, das forças das brutas e pesadas correntes, das cordas retesadas e das mordaças atadas como que por manivelas intransigentes e inflexíveis, tormento que pesa enquanto corrói, enfraquece, cega e impede qualquer tipo de movimento ou sequer esperança de mudança. O caminho para o alto é reto, mas árvore alguma deve crescer como um poste.
Olhando ao redor, tais ferramentas de morte brotam da escuridão que, por mais que infinita, não permite o seu desbravamento através do mero olhar. É preciso conhecê-la para subjugá-la.
Por toda a vida, muitas vezes, são os objetivos que nos espantam. Não os objetivos em si, mas o potencial dos objetivos. De onde vem e para onde vão? É a ida sem volta? Ou é a parada sem ida? Escolha sufocante ou procrastino alucinante? Não importa.
A necessidade da busca, a necessidade da necessidade, a obrigação da obrigação, a responsabilidade imposta, a chama da vela mágica apagada, a natureza acorrentada e sequestrada, a definição externa do futuro, são todos planos. Planos de seres menores, porém numerosos e que em meus momentos iniciais, aproveitando-se de seu tamanho brevemente avantajado, ataram-me ao tronco e, como se fosse um elefante que se acostuma com a corda que após adulto não é capaz de lhe trazer nenhuma opressão a não ser a mental (e assim o prende), fui eu que empoderei ainda após o desenvolvimento do corpo humano - e da sua independência enquanto tal - as amarras criadas para me conter e não me deixar escapar do caminho reto, ordeiro, criado por aqueles tortos e desordeiros.
Desordeiros estes que não o são em poder do Caos ou da expansão ou da capacidade ou da amplitude, mas sim através da mera causalidade de suas tentativas fúteis de seguir um modelo inexistente que não se aplicou nem mesmo ao modelo que tentam desesperadamente seguir.
Afasto-me! Afasto-me desses grilhões não ao mover meus pés, mas ao expulsá-los da minha fronte, da minha existência, do meu centro, do âmago do meu ego.
Afasto-lhes pois eu não escolho um objetivo. Eu escolho um caminho. O Meu Próprio. E dele não fazem parte amarras que não foram colocadas, ou sequer aceitas, por mim mesmo. E, a partir de agora, eu não as aceito. Que na sua extensão o ranger de sua tensão e o chiar de sua resistência ecoem, que a explosão de seu arrebento seja ouvida pelas mãos malditas das almas que nos cercam. Que o vazio se torne repleto de barulho estrondoso e que o tronco da miséria humana cresça e se torne o caule arrebatador da existência poliforme. Com a chave da minha mente eu quebro a Sétima Corrente e me desvencilho de todos os anzóis da corrupção dos antepassados.
O Futuro é Meu. O Futuro é Nosso para criar e abraçar e abocanhar. Se a Magia é um alfabeto, que sejam estas as palavras que me libertam da magia de outrora.
"...he has not dedicated his life to reaching a pre-defined goal, but he has rather chosen a way of life he KNOWS he will enjoy. The goal is absolutely secondary: it is the functioning toward the goal which is important. And it seems almost ridiculous to say that a man MUST function in a pattern of his own choosing; for to let another man define your own goals is to give up one of the most meaningful aspects of life— the definitive act of will which makes a man an individual.
...you MUST FIND A NINTH PATH."
~H.S.Th