Refém da cachoeira infame de estímulos, distrações, interesses, trivialidades, informações incompletas - e completas, embora raramente. Como que por uma escada espiral, mergulhei passo-a-passo neste funil psicológico; intencionalmente ou não, o caos e a decadência inevitáveis deste sistema monopólico fazem com que o fantasioso e o escapismo se tornem mais e mais interessantes. Buscando fugir da persistência da inabilidade de mudança, inabilidade esta exclusiva da maioria insignificante que se coloca à mercê de uns poucos, damos nossas vidas ao efetivo nada.
Desses estímulos nada provém, a não ser o vício da impaciência, do movimento falso porém continuo e da velocidade elevada que nos impede de parar por sequer um minuto para observar, ler, escrever, criar, nos manifestarmos - e esta lhes é a mais lucrativa - e sermos nós mesmos. Não decidem o que falamos ou fazemos, mas decidem sobre o que falamos e sobre o que fazemos. Assim como também decidem o que não fazemos.
Para mim, se tornou mais difícil escrever de forma não-reflexiva. Como evidente neste exato momento de minha escrita, só tenho escrito sobre o que me passa no momento. Longe está a criatividade e a exploração do inesperado e da invenção. Ainda é possível pescá-las, porém a linha deve ser longa e a pesca deve ser profunda, ambos requerendo uma paciência cada vez mais escassa e reduzida.
Reversível? Sim, assim como qualquer outro vício. Porém, sua facilidade e impensabilidade em sua condução o tornam cada vez mais sádico, pois é um vício que nada custo e que se encrusta em nossa realidade assim como o ar que absorvemos em nossos pulmões.
Longínquos estão os dias em que me bastava observar as chamas enquanto sons feéricos dançavam no ar em torno de mim. Longínquos estão os dias de meditação, criação, solitude, solicitude, honra, devoção, unicidade e mitologias individuais.
Longínquos para trás, em direção ao passado, e provavelmente longínquos para frente, em direção ao futuro. Porém, assim como a ametista presa dentro do geodo, é possível quebrá-lo e revelar, em nova forma espatifado porém talvez mais repleto de nuances e variações.
Muito me apetece a probabilidade e a responsabilidade pessoais de dar sequência a estes projetos de pensamentos, mas obviamente não é algo que me parece fácil. Principalmente se levarmos em consideração a necessidade de fazê-lo dia após dia, de forma totalmente consciente.
Porém, é isso que nos faz tão diferentes das demais espécies. A consciência com a qual realizamos nossas ações. Não devo deixar que esta também se esvaia, mas sim utilizá-la como o antigo martelo que eu jurei que utilizaria para arrebatar o metal da minha vida, porém agora para fender a rocha em que o cristal do verdadeiro valor da minha, enquanto minha, existência se encontra aprisionado
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